Na última década, o Brasil vivenciou uma série de ataques sistemáticos a políticas feministas, antirracistas e de promoção aos direitos de pessoas LGBTQIA+, que produziram impacto substantivo tanto nos espaços institucionais quanto no imaginário social, fazendo estagnar ou até mesmo retroagir um conjunto amplo de políticas públicas de direitos humanos que vinham, ainda que precariamente, sendo implementadas no país. Embora tenham tomado corpo em múltiplos espaços sociais, essas ofensivas miraram especialmente a educação, organizando ataques violentos direcionados a professoras, pesquisadoras e gestoras comprometidas com a construção de uma perspectiva crítica e com o enfrentamento às diferentes formas de discriminação e desigualdade que marcam a sociedade brasileira. A despeito do ambiente de censura e terrorismo ideológico que se instalou em escolas e universidades nos últimos anos, um conjunto amplo de profissionais de educação resistiu, insistiu e persistiu, desenvolvendo ações pedagógicas que propunham um debate cientificamente fundamentado e politicamente engajado sobre questões de gênero, sexualidade e raça. Sua resistência corajosa e criativa produziu ricas e potentes práticas educativas, que confrontaram um ambiente político e institucional hostil.

Reconhecendo a importância de visibilizar essas práticas propomos esse dossiê, dedicado especialmente à divulgação de trabalhos que registrem e analisem as múltiplas formas de resistências colocadas em curso por educadoras e educadores em um momento de avanço e consolidação de um ambiente reacionário no Brasil. Se, como campo acadêmico, passamos os últimos anos muito dedicados a investigar as características do reacionarismo brasileiro, parece mais do que nunca necessário voltarmos nosso olhar para aqueles e aquelas que, apesar deste ambiente hostil, resistem na promoção de práticas pedagógicas em gênero, sexualidade e raça que miram uma transformação social através da educação.